sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Amrita – o Néctar da Imortalidade

Amrita é um termo em sânscrito (a língua sagrada da Índia), que significa literalmente sem morte. É a água da vida, um líquido que tem uma relação como soma (líquido da vida eterna), é a pedra filosofal, o elixir da longevidade, a essência primordial, o Graal da sabedoria e do rejuvenescimento… O termo é conhecido nos Vedas, e parece aplicar-se a varias coisas oferecidas em sacrifício. Ele é também chamado de Nir-jara e Piyusha. Em tempos remotos o Amrita foi produzido pela agitação do oceano de leite por deuses e demónios, e oferecido por Dhanvantari – o médico dos Deuses. É por este líquido que os deuses adquirem a imortalidade.

Amrita é também um fluido que sai da glândula pineal e desce até à garganta quando o yogui está em estado de profunda meditação; algumas lendas dizem que basta uma gota para conquistar a morte.

O Bater do Oceano de Leite



É um conto da mitologia hindu, que conta a história de uma disputa entre os Devas (Anjos) e os Assuras (Demónios).

O conto

Numa época remota, existia um grande Asceta, o Sábio Durvasa. Um dia, ele caminhava com uma grinalda de flores na mão, que na Índia se chama "Santanaka" para oferecê-la a Indra. Indra que vinha na posição oposta cavalgando o elefante Airavata, passou pelo sábio e ignorou-o, fazendo com que Airavata pisasse e rasgasse a grinalda de flores. Durvasa se encheu de ira e rogou uma praga em Indra:
"O orgulho da riqueza subiu à sua cabeça,
Lakshmi irá te abandonar."

Então
Indra, que havia percebeu a loucura que tinha feito, curvou-se perante Durvasa e pediu o seu perdão. Durvasa disse: "Que Vishnu o faça feliz" e partiu.

Por causa da maldição de Durvasa,
Lakshmi deixou Indra e desapareceu. Como Lakshmi, a deusa da prosperidade, poder e coragem, desapareceu, a vida dos Devas tornou-se miserável. Os Assuras aproveitaram essa oportunidade, para invadiram o paraíso, derrotando Indra e os Devas numa guerra, e ocupando o paraíso. Indra perdeu o seu reino e todo o seu poder para os Assuras, e os Devas perderam a sua imortalidade e o seu valor.

Vários anos se passaram. O mestre de
Indra, Brihaspati pensou num caminho para acabar com os problemas de Indra. Então ele foi juntamente com os Devas falar com Brahma, que os levou até Vishnu, de acordo com os desejos dos Devas. Então Vishnu disse: "Não tenham medo, eu mostrar-lhes-ei uma forma – o mar de leite precisa de ser agitado. Como é uma tarefa muito difícil, façam amizade com os Assuras, e peçam a sua ajuda. Usem a montanha Mandara como poste, e Vasuki, o rei das serpentes como corda. Eu irei ajudar na hora certa. Quando o Oceano é agitado, o Amrita emerge das profundezas, bebam dele e tornem-se imortais; vocês ganharam força e poderão derrotar os Assuras. Quando o mar for agitado, Lakshmi que havia desaparecido, reaparecerá e derramará sua graça sobre vós.

Brihaspati foi muito inteligente. Ele foi ter com os Assuras, e com astúcia conseguiu fazer amizade com os mesmos. Então pediu-lhes que os ajudassem a bater o mar de Leite. Os Assuras aceitaram, porque secretamente queriam o Amrita para eles. Depois de conseguirem a ajuda dos Assuras, eles começaram a fazer oferendas ao Oceano de leite. Os Devas e os Assuras ofereceram toda sorte de ervas e plantas ao Oceano. Todos se juntaram para realizar a tarefa de adquirir o Monte Mandara. Eles alcançaram a planície onde o majestoso monte estava posto. Depois de grande trabalho de cavar, conseguiram desarreigar o monte da terra. Tentaram então carregar a montanha Mandara para o oceano, mas o peso da montanha era demais para eles, muitos morreram e muitos magoaram-se. Pouco tempo depois Vishnu chegou e com um olhar ressuscitou todos os mortos e curou todos os feridos. Ele mandou então Garuda carregar o monte mandá-lo para o oceano. Garuda carregou o monte Mandara nas suas costas até a beira-mar, e fê-lo imergir no oceano de leite. Ele amarrou Vasuki o rei das cobras como corda no monte. Os Assuras e os Devas ficaram cada um com uma ponta da serpente, então começaram a bater no oceano.

O batimento continuou por um longo tempo sem que nada emergisse dele, até que o monte começava a deslizar para o fundo do oceano. Os
Devas e os Assuras não poderiam continuar com o batimento sem o monte Mandara. Até que eles foram abençoados com a Misericórdia de Vishnu. Vishnu, ouviu o seu choro e veio logo ao seu resgate. Ele tomou então a forma de Kurma, o seu Avatar com forma de tartaruga, colocou o monte nas costas e levou-o de volta à superfície. Os Devas e os Assuras respiraram aliviados, pois agora poderiam continuar a bater o Oceano.
O Bater do oceano de leite continuou com vigor. Então surgiu do fundo do oceano uma nuvem de fumo que sufocava os Devas e os Assuras, e eles começaram a clamar por socorro, até que descobriram que o Oceano tinha expelido o "Kalakuta", um veneno mortal. Estavam todos amedrontados diante da ferocidade do veneno. Os Devas oraram fervorosamente por Shiva e esperavam que ele pudesse vir para ajudá-los, pois era uma substância que corroía tudo que tocava, e Shiva era o mais resistente dos Deuses. Shiva escutando o clamor dos Devas, rapidamente veio ao local, e, como foi pedido pelos Devas, Shiva concordou em beber o veneno. Shiva reteu o veneno na sua garganta, e salvou os Devas da destruição.

O veneno era muito poderoso, tanto que fez com que a garganta de
Shiva ficasse azul, por isso até hoje ele é chamado de "Neel-Kantha", que significa "aquele que tem a garganta azul". Depois do veneno ter sido consumido por Shiva, os Devas e os Assuras continuaram mais uma vez a Bater o Oceano de leite. Passado algum tempo com o batimento do oceano, os Presentes Celestiais tomaram forma, o batimento trouxe à tona vários tesouros perdidos:

-
Sura (deus do vinho);
-
Chandra (a lua); Apsaras (ninfas celestiais);
- Kaustabha (uma jóia preciosa para o corpo de
Vishnu);
- Uchchaihshravas (o cavalo divino);
- Parijata (a árvore dos desejos);
-
Kamadhenu (a vaca sagrada);
-
Dhanvantari (o médico dos deuses);
-
Airavata (o elefante de quatro trombas);
- Panchajanya (concha sagrada de
Vishnu);
- Sharanga (o arco invencível).

Continuando a bater, surge no meio das ondas do oceano de leite, uma deusa angelical, ela estava sentada em cima de um lótus desabrochado. Com um colar de flores de lótus no pescoço, e segurando um lótus na mão. A sua aparição foi a mais atractiva de todas. Na sua face havia um sorriso brilhante, era a própria Lakshmi!

Os sábios começaram a entoar cânticos em honra de
Lakshmi, enquanto as Apsaras dançavam. Os elefantes esguichavam água sagrada sobre ela, ela adquiriu o nome de Gajalakshmi. O rei do oceano apareceu na sua forma natural e revelou que Lakshmi era sua filha. O rei presenteou Lakshmi com jóias e roupas atractivas, e deu-lhe uma grinalda de flores de lótus. Quando todos os Devas olhavam surpresos, Lakshmi colocou a grinalda no pescoço de Vishnu, e a partir daí, começou a habitar o seu coração. Quando Lakshmi olhou para Indra ele adquiriu logo vigor e um brilho extraordinário.

Os
Devas e os Assuras continuaram a bater o oceano, até que finalmente Dhanvantari emergiu do mar. Dhanvantari é o médico dos Devas. Ele carrega um pote sagrado nas mãos, esse pote continha o Amrita, néctar que garante imortalidade a quem o beba. Quando os Assuras viram o que tinha acontecido, correram e roubaram o pote das mãos de Dhanvantari! E aqui começa a luta entre os Assuras e os Devas. Vishnu que via tudo, resolveu ajudar os Devas. Ele disfarçou-se de Mohini. Mohini emergiu do oceano com beleza e graça. Ela chegou junto aos Assuras e perguntou: "Porque estão a lutar?" Eles responderam: "Nós lutamos porque queremos o Amrita!" Mohini sorrindo disse: "Não se zanguem pelo Amrita! Se vocês aceitarem, eu mesmo o sirvo para vocês! Façam duas filas, uma de Devas e outra de Assuras!" Os Assuras encantados aceitaram a proposta, assim como os Devas. Mohini com os seus truques, serviu veneno aos Assuras e Amrita aos Devas. Os Assuras encantados nem deram pelo truque que havia sido usado. Os Devas beberam o Amrita e ganharam imortalidade, e começaram então uma guerra com os Assuras, os quais foram derrotados facilmente.”